quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cores (teoria e prática)



A teoria das cores é um assunto muito complexo e falar sobre ela tomaria mais tempo e espaço do que eu tenho e exigiria mais conhecimento técnico também. Mesmo assim, vou fazer um resumo, já que quem quer ser pintor tem de saber o mais que puder sobre cores.
Falando de modo estritamente científico, cor é a interpretação que o nosso cérebro faz da remissão de luz vinda de um objeto. Ou seja, uma fonte de luz, como o Sol, envia ondas eletromagnéticas que se refletem em um objeto, a parte visível dessas ondas é captada por nossos olhos e enviada a nosso cérebro que interpreta esse fenômeno como cor. O espectro de ondas eletromagnéticas visível a que chamamos de luz branca é composto, na verdade, pela mistura de sete cores: violeta, azul, ciano, verde, amarelo, laranja e vermelho, em ordem da onda mais curta para a mais longa. Isso é facilmente comprovado quando dividimos a luz solar fazendo-a passar por um prisma, ou quando essa luz passa através de gotículas de água criando o que chamamos de arco-íris.
Apesar do que foi dito acima, a cor não é um fenômeno físico, ela é antes um fenômeno psicofisiológico, de caráter subjetivo e individual, uma vez que cada ser vivo, e cada pessoa, percebe a cor a sua maneira. Devido ao fato de que a percepção das cores pode causar diferentes sensações, ela tem uma série de implicações na psicologia e é amplamente explorada pela publicidade. Cada cultura tende a criar seu próprio código de cores, associando cada cor a uma sensação específica. Na cultura ocidental, por exemplo, o vermelho simboliza a paixão; o branco, a pureza; o verde, a esperança e assim por diante.
Ao longo da história, as cores têm sido estudadas por grandes mentes das artes, das ciências e até da filosofia. Indo de Aristóteles, passando por Da Vinci e Newton e chegando até Goethe, muitas foram as teorias tecidas para explicá-las e muitos os métodos criados para usá-las de maneira mais adequada, mas, como dito no começo deste texto, não há tempo ou espaço suficiente para todas elas aqui. Se você quer se aprofundar nessa matéria, recomendo um dos livros mais abrangentes e explicativos sobre o tema: “Da cor à cor inexistente”, de Israel Pedrosa; ou acompanhe as próximas postagens, comente, pergunte, sugira.

terça-feira, 20 de março de 2012

Preparando a tela



Então, vamos começar. Como eu já disse, as telas comercializadas no Brasil já vêm impermeabilizadas, mas é sempre bom dar uma demão a mais. Para isso, vamos usar uma fina camada de gesso acrílico diluída em água e passada com pincel chato macio. Para que ela seja homogênea, façamos pinceladas cruzadas, ou seja, para cada pincelada horizontal, damos uma vertical sobre ela, em movimentos rápidos, girando o pincel a cada vez. Façamos isso de uma ponta a outra da tela, com calma, sem pressa. Também podemos usar goma laca para isso. É uma substância vendida em escamas (marrom escura, parecida com casca de barata, por isso é conhecida por esse nome), que deve ser diluída em álcool absoluto (com concentração de 98% ou mais). Ambas as substâncias podem ser compradas em lojas de materiais de construção. Misturamos cem gramas de goma laca com um litro de álcool absoluto em um frasco, tampamos o frasco e deixamos diluindo por, mais ou menos, um dia. Outro maneira é usando tinta a óleo ou acrílica branca, passando-a da mesma forma que passaríamos o gesso acrílico. Em vez de pincel, podemos usar um pequeno rolo de espuma, desses de pintor de paredes. Deixamos a tela secar inteiramente antes de começarmos a pintar. A impermeabilização serve para que consigamos deslizar o pincel pela tela, fazendo os diversos efeitos que a pintura a óleo ou acrílica nos proporcionam. Além disso, a tela sem primer absorveria muita tinta. Esse processo serve tanto para telas como para madeiras e outras superfícies porosas, desde que esses poros não sejam grandes demais. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Materiais de pintura V (espátula, paleta, cavalete, etc)



Espátula

Instrumento com extremidade achatada e larga, feito de madeira, metal ou plástico usado para espalhar massa acrílica ou tinta pela superfície da tela ou de outro suporte. Pode ser usado para criar texturas usando gesso acrílico ou a própria tinta não diluída. Há vários tipos de pontas e diferentes numerações.

Paleta

Instrumento usado como suporte e mistura das tintas antes de aplicação na tela. Há de diferentes tamanhos e materiais, sendo que a mais comum é um sigmóide de madeira ou plástico com um orifício para o apoio do polegar. As tintas são dispostas seguindo um padrão próprio do artista ou da obra a ser pintada, geralmente da mais clara para a mais escura, ou vice-versa, ou divididas entre vivas e pastéis.

Cavalete


Instrumento articulado e regulável, geralmente de madeira, que serve para se apoiar a tela ou outro suporte reto na posição (inclinação) e altura adequadas para o pintor. Os principais tipos são o de estúdio, o de camping, o de mesa e o de maleta.

Godê


Recipiente pequeno, de cerâmica, vidro ou metal, simples ou duplo, que é usado para o solvente e o médium de pintura; em pintura a óleo são terebintina e óleo de linhaça respectivamente; em pintura acrílica, somente água.  

sábado, 17 de março de 2012

Materiais de pintura IV (vernizes, primer etc)



Primer

Toda tela de pintura artística vendida no mercado brasileiro atualmente já vem impermeabilizada com uma fina camada de primer, uma substância largamente usada na preparação das superfícies que irão receber tinta. Nesse caso, usa-se o gesso acrílico diluído em água. Mesmo assim, é recomendável que se aplique uma camada a mais antes de pintar. Também podem ser usadas tintas a óleo, acrílica ou látex brancas ou goma laca (comprada em escamas em lojas de materiais para construção e diluída em álcool absoluto).

Terebintina

Essência da resina extraída do terebinto, usada como solvente de tintas e vernizes. Serve para diluir tinta a óleo e para limpar os pincéis depois de pintar com essa tinta. Também forma o médium dessa tinta.

Óleo de linhaça

Óleo extraído da semente de linho, usado como aglutinante da tinta a óleo. Também usado para compor o médium dessa tinta.

Verniz

Solução resinosa, natural ou sintética, de secagem rápida, usada como revestimento de superfícies (de madeira, couro, cerâmica etc.), formando uma película dura, aderente e brilhante.
Há muitos tipos e para diversos usos. Para pintura a óleo é recomendado o verniz cristal legítimo; para acrílica, o verniz acrílico. Também há o acrílico fosco, o mordente, geral e em spray. 

Gesso acrílico

Pasta composta por resina acrílica branca diluída em água. Usada para impermeabilizar telas, madeiras e outros suportes porosos para pintura. Também serve para criar texturas. Tem acabamento fosco, opaco e é de secagem rápida.

Médium

Solução de óleo de linhaça com terebintina usada para diluir tinta a óleo, dar mais brilho, mais transparência e retardar ainda mais a secagem. Geralmente é feito pelo próprio pintor. Para pintura acrílica, é comercializado um médium específico. 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Materiais de pintura III (telas e outros suportes)


 

O primeiro suporte que o homem usou para pintar foi a parede da caverna em que morava, ele misturava terra, argila, ossos calcinados e carvão vegetal com sangue, gordura e excrementos e usava isso como tinta .
Quase como um consequência natural disso, os egípcios passaram a pintar as paredes dos palácios e dos templos na Antiguidade, usando têmpera (mistura de pigmentos com ovo e caseína) ou encáustica (mistura de pigmentos com cera derretida).
Os cretenses inventaram o afresco, essa técnica consistia numa tinta formada por pigmentos diluídos com água aplicada sobre uma parede que havia recebido uma camada de argamassa úmida.
Os gregos aperfeiçoaram a arte da pintura em cerâmica, os romanos tornaram o mosaico (técnica de desenhar colando pedaços de pedras coloridas em uma parede) o mais expressivo representante de sua arte, e os bizantinos começaram a aplicar a encáustica sobre madeira.
Na Idade Média, artistas góticos decoraram as igrejas com vitrais (técnica de desenhar com pedaços de vidro colorido em uma janela) e monges escribas e desenhistas ilustraram os documentos religiosos com iluminuras (desenhos e decorações feitas em pergaminhos manuscritos), pintores colocaram dobradiças nas placas de madeira que eles pintavam, unindo-as e criando os retábulos.
Depois de tantos séculos de predomínio do afresco e da têmpera, os artistas flamencos começam a usar a tinta a óleo com cada vez mais afinco e, por volta do século XIV, artistas venezianos tomaram a iniciativa de optar pelas telas, com as quais passaram a pintar em seu próprio ateliê, levando a obra depois de pronta para o local em que seria exposta.
A tela é, basicamente, um esquadro de madeira em que se estica um tecido de algodão ou linho (na maior parte das vezes, a lonita, um tecido de algodão de trama muito cerrada, mas não tão encorpado e grosso como a lona), que é preso por grampos na parte de trás e sobre o qual se passa um impermeabilizante (o primer, geralmente gesso acrílico diluído em água). Atualmente existem vários tamanhos e formatos de tela, mas os mais usados são o retangular e o quadrado. Também há um outro tipo de tela, o painel, cuja esquadria é mais grossa e que não precisa de moldura quando pintado. Esse é, de longe, o suporte mais empregado em pintura hoje em dia. 

Materiais de pintura II (pincéis)



O uso dos pincéis em pintura remonta à pré-história, mas foi principalmente na China, duzentos anos antes de Cristo, que o pincel se propagou como instrumento de desenho e de escrita. Os desenhistas chineses trocaram a cana pelo bambu, prendendo tufos de pelos bem aparados numa das extremidades deste. Utilizado na Grécia e no Egito antigos, ele marcou o nascimento da arte ocidental até o surgimento da pluma, na Idade Média, quando passou a servir mais para o retoque e a pintura que para o desenho.
            Mesmo atualmente, a produção do pincel continua a ser quase totalmente manual, à exceção de máquinas simples, como a que fixa a virola ao cabo ou a que faz a impressão da marca do pincel no cabo.
            Os pelos do pincel provêm de diversos animais: esquilo, texugo, doninha, mangusto quati, mas os mais comuns são de orelha de porco (cerdas, usados principalmente para tinta a óleo), de marta (vermelha ou tropical, usados para tintas mais ralas ou para detalhes com tinha a óleo) e de pônei (usados em pincéis escolares). Atualmente também é muito comum pelos sintéticos de nylon extrudado, geralmente para pincéis escolares ou artísticos dos mais baratos. Há também os color shaper, que tem ponta de borracha e servem para pinturas especiais.
            O cabo do pincel pode ser de madeira (melhores e mais caros) ou de plástico (mais frágeis e baratos). Podem ser de madeira crua e não tratada ou de madeira de lei e tratada. A madeira é selada e laqueada, para dar ao cabo um acabamento de alto brilho e resistência à água, sujeira e inchamento. Os cabos curtos servem para aquarela, guache, nanquim e artesanato; os cabos longos servem para pintura a óleo e acrílica.
            As virolas, cintas metálicas que prendem os pelos ao cabo, podem ser de alumínio polido, latão cromado, niquelado ou cobreado, cobre, níquel ou aço niquelado.

Tamanhos de pincéis

            Os tamanhos mais comuns de pincel vão de 000 a 20, mas há mais finos, bem como mais grossos.

Tipos de pincéis

            Eis uma lista de todos os tipos atualmente no mercado, vale lembrar que os redondos (rounds) e os chatos curtos (short brights) são, de longe, os mais usados e servem bem para cobrir qualquer necessidade de um pintor de quadros.

Chatos:

Chato longo (Stroke)
Chato curto (Short Bright)
Quadrado (Bright)
Plano (Flat)
Língua de gato (Filbert)
Chanfrado (Angular)
Leque (Fan)
Trincha (Paint brush)
Trincha longa (Spalter)
Pelenesa (Gilder's Tip)

Redondos:

Redondo (Round)
Redondo curto (Spotter)
Redondo longo (Liner)
Ponta chata (Showcard)
Chanfrado (Striper)
Pituá (Mop)
Broxa ou Batedor (Stencil)
Gafo (Pipe)

Os cuidados com os pincéis

Nunca mergulhe completamente o pincel na tinta, fazendo com que penetre um pouco dela entre os pelos e a virola, pois esse é um lugar muito difícil de lavar e sempre acaba sobrando um pouco de tinta aí que, quando seca, eriça os pelos do pincel e o inutiliza.
            Sempre lave o pincel após o uso, limpando primeiro o excesso de tinta num pano seco, mergulhando o pincel em terebintina (se estiver pintando a óleo) ou em água (se estiver pintando a acrílica, aquarela, nanquim ou guache), fazendo movimento vigorosos para tirar todo o restante da tinta, secando-o em um pano seco e guardando-o com os pelos para cima em um recipiente aberto (um vidro ou um porta-pincel).
            Nunca o guarde com os pelos para baixo. Pode guardá-los também na horizontal, dentro de um estojo ou entre dois panos secos.
            Lembre-se: cuidando bem de seus pincéis, eles podem durar por muito tempo. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Materiais de pintura I (tinta a óleo)


A tinta a óleo é uma mistura de pigmento pulverizado e óleo de linhaça ou papoula. É uma massa espessa, de consistência cremosa, que já vem pronta para o uso, embalada em tubos ou em pequenas latas. Dissolve-se com óleo de linhaça ou terebintina para torná-la mais diluída e fácil de espalhar. O óleo acrescenta brilho à tinta; o solvente tende a torná-la opaca.
A grande vantagem da pintura a óleo é a flexibilidade, pois a secagem lenta da tinta permite ao pintor alterar e corrigir o seu trabalho. A tinta a óleo pode ser usada sobre tela, madeira ou estuque e ser aplicada com pincéis ou espátulas de diversos tamanhos e formatos.
A invenção da tinta a óleo é atribuída a Jan Van Eyck em um livro de Cennino Cennini de 1437, mas a verdade é que ela já era conhecida de outros pintores, que usavam azeite de oliva, óleo de nozes, cera de abelhas e diversas outras misturas. O retrato do casal Arnolfini é considerado umas das primeiras e mais representativas obras com essa técnica.

Atualmente, existem diversas marcas no mercado, nacionais e importadas, com uma variedade de cores. As importadas geralmente usam pigmentos naturais e, por conta disso, são mais caras. Na verdade, o preço varia de acordo com a cor devido ao valor do pigmento usado. As nacionais costumam usar pigmento industrial, que é mais barato. Uma boa paleta pode ser composta com ambos os tipos de tinta, dependendo dos efeitos que se deseja. O que se deve evitar são as muito baratas, pois contêm cal em sua composição, o que deixa a cor muito opaca e sem vida, além de interferir na tonalidade.